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Filme (3.0): "Me Leve para um Lugar Melhor", Holanda, Bósnia, Estreia 2020, Assistido 2020


2020, Drama, Holanda, Bósnia, Diretora: Ena Sendijarevic
Elenco com Sara Luna Zoric, Lazar Dragojevic

    Jakson Böttcher, O Jacó
#7BIFF BY LOOKE, às 20:00

    Esta co-produção entre Holanda e Bósnia havia sido escolhida pelos países baixos para tentar concorrer ao Oscar de Melhor filme Internacional de 2020, contudo o insucesso deste intento não tira o mérito deste que é o melhor filme do 7º BIFF, segundo os editores deste caderno de cinemas.

    A história poderia ser considerada um clichê dramático e romântico, contudo as escolhas da personagem interpretada pela excelente Sara Luna Zoric fazem o filme ir para além destes estereótipos, alcançando o importante resultado de ser também um filme sobre o protagonismo de decisões femininas, apesar do esforço de outros personagens - homens - de tentarem dissuadi-la do caminho escolhido por ela.


    Abaixo segue o ranqueamento dos filmes assistidos e curtidos deste 7º BIFF.
"Cano Serrado", 2020, Brasil, Faroeste

Classificação: Três Narigadas!

    A postagem de hoje terá um adicional, digamos, especial. Este editor deste caderno de cinema que vos escreve também está enveredando para o mundo das crônicas. Obviamente que sem pretensões literárias, mas sim com o intento principal de aventurar-se mesmo. Enfim, além da resenhas cinematográficas poderão aparecer por aqui este tipo de texto.

    Minha inspiração cresceu depois de que li textos excelentes de autores da mídia curitibana, como o Miguel Sanches Neto e Luís Henrique Pellanda, além  de fora daqui como Mario de Andrade.

    É isso. Ah, lembro que anos atrás já havia publicado algo deste tipo, que e também incluo o acesso nesta postagem.

Publicação: "Num dia de Piá!", por Jakson Böttcher.
Texto 2: "A Batalha", maio de 2020.
Texto 1: "A Noite", meados de 1980

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"A Batalha", maio de 2020.

    Como costuma acontecer em Curitiba, especialmente nas casas onde a friagem é obrigatoriamente aprisionada pelo lado de fora, os vidros acordam como que se molhados propositalmente. Em tese são, pois se por uma fenda sequer o ar frio de fora puder passar e evitar aquele processo que na escola aprendi que se chama de condensação, quando um ar quente, aquele originado pela respiração dos corpos humanos que estão acondicionados, encontra uma superfície mais fria, e a magia da água acontece, mas, nós os humanos de corpos quentes não queremos que o nosso calor fuja, daí de forma proposital cerramos as frestas, as fendas, os escapes.

    Felizmente a minha atenção para os vidros molhados logo é direcionada para outros detalhes da manhã fria da cidade cinza, que quase invariavelmente começa ainda sim pela situação climática da cidade, que costumeiramente não surpreende: qual será a temperatura agora? Será que hoje vou precisar de um guarda-chuva, ou de uma blusa ou será possível arriscar uma bermuda? 

    Hoje, variando o dia-a-dia mais comum, a manhã começou com música. Ao iniciar o aquecimento da água que se tornaria o elemento principal do café da manhã, lembrei que tinha instalado uma caixa de som na cozinha. E isso foi surpreendentemente muito bom. Não imaginava que este ingênuo movimento poderia ser um sinal para aquilo que tornaria o inofensivo domingo em um dia de batalhas. E sonoras!

    Dentro do carro de janelas fechadas a atenção para o trânsito do domingo pode ser negligenciada um pouco, e parte dela estava no que se dizia no rádio, algo como informações de como se evitar contaminação numa pandemia, num mundo aturdido por um letal e desconhecido vírus, seguido de relatos de protestos motivados por truculência policial, além de outras não amenidades do tipo. O domingo não merecia isso.

    Ainda na metade do caminho cujo destino era a casa da mãe, foi surpreendente a permissão para que os vidros pudessem ser abertos, pois o clima, aquele cinzento e implacável parece que também estava saboreando aquele dia de descanso, e mais parcelas da atenção que deveriam ser somente para o trânsito começavam a encontrar outros destinos, outras aplicações mais compatíveis com aquele dia de sol, e a vítima foi aquela programação da rádio, que deu lugar a um programa bem mais ameno que explicava o que era um plano sequência, uma câmera angular, enfim, um especialista qualquer falava sobre as tecnicidades do cinema.

    Mais uma vez, e agora já na metade da manhã e depois da visita ao açougue, quitanda e à farmácia, o som estava lá, ocupando boa parte do tempo que deveria se destinar em outras ocupações, outras atenções. Logo depois da notícia e da técnica, o trabalho realizado na metade final do percurso de destino daquele claro dia foi iluminado por uma seleção de músicas, que como sempre eram espécimes da música popular brasileira. E seguiu-se o dia.

    No bairro e também no terreno onde está a casa da mãe, a alvenaria divide espaço com o verde das árvores, das flores, do mato. Talvez esta diversidade natural seja uma das diferenças mais notórias em relação àquela casa onde os vidros ficam molhados pela manhã. Mas pensando bem, há muito mais variedade, que variam além da flora: a fauna. A cachorrinha que também mora lá é um caso à parte, e que repleta de alegria não se importa com o clima, com a música, com flor, e sim somente com a alegria, e, que contagia.

    Aquela manhã em especial, que cronologicamente talvez já não pudesse ser considerada como tal, visto que o meio do dia já tinha sido superado, foi surpreendida pelo almoço, pelo vinho, pela sobremesa, pela cachorrinha, mas também pelo som do rádio que depois de acionado ainda no percurso, insistia em ocupar o lugar, expandindo-se para as fronteiras além dos muros da casa mãe. E este foi o problema.

    O vinho talvez não permitiu que percebêssemos que o som do carro talvez não agradava a todos, além de mim, da mãe e da incapaz cachorrinha, mas quando o som do carro da casa ao lado foi acionado, tocando músicas estrangeiras e num volume que parecia superar a altura do lado onde estávamos, percebemos que uma batalha, com armas equivalentes, porém ameaçadoras, estava instaurada naquele pacato bairro arborizado.

    Foi surpreendente. Aquele vizinho era conhecido, e o convívio era sempre e invariavelmente pacato. Por algum tempo, talvez por menos de duas horas os sons tocaram concomitantemente, e durante este tempo enquanto a sesta era praticada por todos daquela casa, inclusive pelos integrantes da fauna, eu imaginava como haveria de combater aquele inimigo atrevido. Vou aumentar o som! Vou trocar para músicas mais animadas, mais agressivas! Talvez mudar a posição do carro, direcionando as armas que possuía de forma mais contundente ao inimigo. Dormi. Felizmente.

    Ao acordar percebi que a guerra pouco silenciosa estava sendo travada sem um general neste lado do muro, e num movimento bélico surpreendente fui até o meu carro e desliguei o som. Foi um refrigério para aquela luta, que depois de pouco menos de meia hora foi encerrada de ambos os lados, sem vencedor.
Fim do dia chegando e o destino para casa dos vidros molhados seria mais uma vez a última missão a se cumprir, mas um fato adicional ainda surpreenderia. Aquele vizinho pacato que nunca tivera causado entrevero algum, mas que naquele dia incomodou-se e lutou bravamente com as armas que possuía, era inocente. 

    Quando eu estava saindo da casa da mãe encontrei o meu inimigo mortal daquele dia, que me cumprimentou como se não tivesse lutado durante o dia todo contra mim, e percebi que sim, ou melhor, não, ele não lutara comigo, pois nem em casa estava, e vergonhosamente me dei conta que fiz uma guerra de som de carro com a filha menor do vizinho.
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