Ladrões de Bicicletas (1948)

De 1948 até 2022

5.0 Narigadas, Itália, 1948

    Vivemos numa sociedade que na avaliação de seus conflitos sociais tem tomado partido de uma forma rasa, que avalia o comportamento de seus integrantes por um olhar extremamente conservador e rasteiro, sem uma análise mínima e mais complexa do que pode influenciar os protagonistas destes conflitos, ocasionando o chamado "cancelamento", tão comum nas redes sociais e mídias.

    Bem verdade é muito difícil fazer um julgamento de um caso que não ocorreu no interior das relações das pessoas, e como também é difícil coletar todas as informações pertinentes para uma avaliação aprofundada, usamos o que temos (sempre muito pouco e possivelmente contaminado por aquele que presta tais informações) para nossas avaliações. Certamente o distanciamento, a ausência de evidências reais e idôneas, e o nosso preconceito intrínseco nos faz avaliar mal tais conflitos. 

    Esta reflexão foi suscitada depois de curtirmos o filme "Ladrões de Bicicleta", italiano dirigido por Vittorio de Sica em 1948, que numa Itália que acabara de sair da Segunda Guerra Mundial, vivia uma crise econômica e social, extremamente bem representada neste filme.

   Na história, e logo na sua parte inicial, ficamos indignados pela perda que sofre o personagem principal Antônio Ricci, que desempregado tem dificuldades econômicas para sustentar a sua esposa Maria e seu filho Bruno. Ainda no começo, porém antes da perda que sofre Antônio, a relação de afeto entre os familiares é primorosa, especialmente do pai com o filho e também da forte ação da mãe que abre mão de seus pertences com valores pessoais em prol daquela família miserável, e talvez a maior perda daquela família seja realmente a possibilidade de voltar a este convívio amoroso, que não tem volta, infelizmente.

     O sentimento de indignação do roubo que sofre Antônio, compartilhado entre ele e nós espectadores, vai num sobe e desce durante a execução do filme, pois vemos que aquela sociedade, com destaque quase que exclusivamente dos pobres trabalhadores italianos, não terá uma rápida solução para o problema da pobreza e falta de trabalho, pois a realidade do pós-guerra é muito brutal, ou seja, além da família de Ricci, todos os outros sofrem, pois De Sica vai nos apresentando inúmeras situações também desesperadoras que afetam a todos.

     Com este sentimento de indignação sobre o roubo, somado a evidente impotência de reação de Antônio e seu filho Bruno, julgamos o ladrão, mas numa reviravolta brutal e genial no roteiro, o filme nos faz entender o que motivou o roubo, mas não pelo ponto de vista do ladrão, mas sim, agora pelo ponto de vista de Antônio. É chocante. É triste. É cinematograficamente genial.

    Hoje, 01 de Outubro de 2022, estamos às vésperas das eleições gerais que escolherão os líderes do executivo e integrantes dos legislativos estaduais e nacional, e dentre muitas e muitas análises que precisam ser feitas para um discernimento correto do eleitor, não consigo esquecer quem foram os responsáveis pelas últimas alterações dos direitos trabalhistas e previdenciários no Brasil, que jogaram para os trabalhadores assalariados todo o ônus dos problemas que o país enfrenta. Ou seja, impossível não votar em quem defende o povo e o trabalhador, mesmo que desconfiado que seja da boca para fora. Ou seja, 1948 está muito mais perto de 2021 do que eu gostaria.

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jacozao.com
Curitiba 2022

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