Licorice Pizza (2022)

Voltando em grande estilo!

4.5 Narigadas, EUA, 2022

    Muitas vezes neste caderno de cinema eu comento sobre a importância da maior festa do cinema mundial, o Oscar, e apesar das discussões sobre sua relevância nunca resultarem em um consenso, considero inegável que mesmo que discutível a premiação é sem dúvidas uma fonte de bons filmes para serem assistidos. Acompanhar a listagem dos filmes selecionados e assisti-los faz destes dias pré-festa (sim, o evento é chamado da festa do cinema) um momento muito gostoso para o cinéfilo.

   Nesta toada, tenho seguido o intento de assistir a todos os filmes antes da premiação que ocorrerá dia 27 de março de 2022, e este "Licorice Pizza" eu pude curtir dentro da sala do Cine Plaza no Cine Passeio, o mais belo complexo de cinemas que conheço. Sério! E, além do excelente filme curtido e também do contexto antes da festa de premiação do Oscar, um elemento muito importante impactou demais este cinéfilo amador: a grande saudade de assistir a um bom filme no cinema.

    Dirigido pelo renomado diretor americano Paul Thomas Anderson, o PTA (de "Magnólia" 1999 e "Trama Fantasma" 2017, isso para citar somente duas de suas maiores obras) este filme de 2022 é um filme extraordinário, especialmente pela cara de obra de arte que o filme tem, principalmente pelo seu visual anos 1970 de um verão dos EUA, num país envolto numa crise internacional, que conta a história de um romance típico, mas que com um roteiro também escrito por PTA, desenha um filme no qual o espectador fica ansioso pelo desfecho romântico. Contudo, e apesar do ótimo filme, a emoção se completa com o contexto extra-filme.

    Não é segredo para ninguém que a pandemia mudou muito a vida das pessoas, certamente tragicamente para aquelas que tiveram perdas e sequelas causadas pela doença, mas para quem teve o privilégio e a graça de ter sido afetado apenas no fluxo de sua rotina, o viver a vida também sofreu muitas alterações. Encaixo-me no segundo grupo, e a minha rotina de cinéfilo se alterou muito drasticamente nestes dois últimos anos.

    O streaming ganhou uma represada força, visto que não foi a pandemia que o criou, mas com certeza esta forma de assistir a filmes foi incrivelmente impulsionada pelas mudanças forçadas pela crise de saúde que tivemos, e além do acesso a diversos novos serviços de transmissão online, os festivais de cinema também passaram a transmitir seus selecionados, e também ocorreu o incremento de novas produções que passaram a figurar nestes serviços e festivais. Enfim, o sofá da nossa casa passou a ser o local para o cinéfilo exercitar o seu hobby. Mas para além da segurança do lar e o aumento da disponibilidade de filmes, pode-se dizer que a vida do espectador ficou realmente melhor?

    Eu achava que a resposta desta questão seria sem dúvidas positiva, mas ontem, depois de assistir ao mais novo filme de PTA no cinema do Cine Passeio eu titubeei. Foi um deleite r a um local onde a arte do cinema está presente em tudo, desde as exposições fixas com fotos dos eventos e dos cinemas antigos de Curitiba, com um telão que fica exibindo trailers de filmes em cartaz e outros que ainda virão, e mais, para o curitibano é uma delícia rever a réplica dos dos painéis do Cine Ritz e do Cine Luz, dois cinemas que eram do munícipio e que foram fechados pelo então prefeito e agora ex presidiário Beto Richa. Externamente da sala de cinema estes atrativos são impensáveis de serem reproduzidos em casa.

    Dentro da sala de cinema o sentimento também é avassalador. É muito difícil reproduzir em casa aquele ambiente. Acho que mesmo que se tenha um equipamento de imagem bom (uma grande e boa televisão), com um bom som, talvez um home theater, a imersão que o cinema proporciona é muito raro. Em casa é difícil não haver interferências externas, tanto das pessoas quanto de todo o normal de uma casa, como vizinhos, carros, outras pessoas, etc. Contudo, acho que o fator psicológico do espectador é mais difícil de ser alinhado em casa do que no cinema. 

    Digo isso pois acho que o a mobilização psicológica (inconsciente, talvez) que se cria ao ir ao cinema, ir ao lugar que é destinado exclusivamente para aquele fim, faz com que a gente aproveite e absorva muito mais ao filme que está sendo exibido. Enfim, a receita foi seguida completamente: um filme de um excelente diretor e roteirista assistido numa ótima sala de cinema fizeram o curtir o "Licorice Pizza" uma experiência sem igual. Pelo menos nos últimos dois anos.
    
Assistido no Cine Passeio em Curitiba
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jacozao.com
Curitiba 2022

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