Lançamento 1987, Drama, Irã
Direção de Abbas Kiarostami
Jakson Böttcher, O Jacó
Plex, às 22:00
Recentemente ouvi da estudiosa Rita Lobo, uma especialista do ramo culinário, uma explicação sobre o excesso de alguns ingredientes que são adicionados em alimentos ultraprocessados, que são alimentos produzidos a partir de ingredientes simples, como farinha, mas que de tanto processamento e adição de alguns elementos, geram produtos quase artificiais.
Estes elementos que compõe os ultraprocessados também são formados por itens comuns à cozinha, tal como açúcar, gordura e sal, contudo o seu uso e consequentemente o seu consumo em excesso geram a chamada hipersensibilidade no paladar de quem os consome.
Funciona assim, basicamente: pessoas que se alimentam de produtos ultraprocessados em excesso, por exemplo, aquele caldo de carne em tablete, ou ainda, bolacha recheada e refrigerante, ensinam ao seu paladar que a comida é composta pelos ingredientes contidos nestes alimentos, que além de produtos químicos estranhos na natureza, contém basicamente sal, gordura e açúcar. Ou seja, se esta pessoa que ensinou o seu paladar que comida é este excesso, quando comem alimentos mais naturais e com preparos mais caseiros, acham o resultado estranho e sem sabor.
Pois bem, extrapolando este conceito para o cinema, certamente encontraremos cozinheiros, ou melhor, cineastas especialistas na produção de produtos cinematográficos ricos em ingredientes muito comuns da sétima arte: som e imagem, porém, que usados em excesso geram produtos muito estridentes, extremamente coloridos e com muito movimento, e que quando o espectador acostumado com estes excessos encontrar um produto mais caseiro, que dosa com mais cuidados os ingredientes, talvez sua sensação seja de frustração. Talvez.
Talvez aquele espectador que tiver contato, por exemplo, com produções dos realizadores iranianos Abbas Kiarostami, Jafar Panahi, Asghar Farhadi e Majidi Majidi, deverá sentir o verdadeiro gosto da comida cinematográfica, produtos que tem a preocupação que de uma forma dosada, porém consistente, geram os legítimos sentimentos que o cinema se propõe, tal como emoção, educação, empatia, regozijo.
Recentemente assisti ao filme "Onde Fica a Casa do Meu Amigo", escrito e dirigido por Abbas Kiarostami, e os elementos de um filme extremamente humano são os destaques desta produção. A história é contada pelo ponto de vista de um menino, de uma criança que tenta resolver um problema simples, contudo é a motivação deste pequeno que impressiona. Suas intenções são carregadas de uma verdadeira preocupação para com o outro, sem qualquer interesse adicional.
Este é o fio da história, intencionalmente simples, pois o propósito de Kiarostami é o de nos alimentar com o essencial, e o intento é alcançado magistralmente.
Classificação: Quatro e Meia Narigadas!
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