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Filme (5.0): "Beijo no Asfalto", 2018, 2019, Brasil

2018, Brasil, Direção de Murilo Benício, com Lázaro Ramos, Débora Falabella, Otávio Müller, Fernanda Montenegro, Drama


    Jakson Böttcher, O Jacó
Google Play, às 06:00

     Publicado em 1960 e escrita originalmente como uma peça teatral, "O Beijo no Asfalto" de Nelson Rodrigues foi por muito tempo uma leitura obrigatória para os vestibulares e estudos acadêmicos. A obra tem marcas indeléveis da carreira profícua do escritor, que antes de escrever fora repórter policial, carreira que alimentou a imaginação do pernambucano radicado no Rio de Janeiro.


ARANDIR (numa alucinação) — Dália, faz o seguinte. Olha, o seguinte: —
diz a Selminha. (violento) Diz que, em toda minha vida, a única
coisa que se salva é o beijo no asfalto. Pela primeira vez. Dália,
escuta! Pela primeira vez, na vida! Por um momento, eu me senti
bom! (furioso) Eu me senti quase, nem sei! Escuta, escuta!
Quando eu te vi no banheiro, eu não fui bom, entende? Desejei
você. Naquele momento, você devia ser a irmã nua. E eu desejei.
Saí logo, mas desejei a cunhada. Na Praça da Bandeira, não. Lá, eu
fui bom. É lindo! É lindo, eles não entendem. Lindo beijar quem
está morrendo! (grita) Eu não me arrependo! Eu não me arrependo!

    O extrato acima retirado de um texto adaptado pelo Instituto de Federal de Santa Catarina tem uma parte da fala do homem, de Arandir, o personagem que executou o beijo de quem estava no asfalto, e que nesta adaptação cinematográfica de 2018 foi interpretado pelo excelente Lázaro Ramos. Inclusive, é monstruosa a atuação deste ator e também de todos os demais e atrizes, sem exceção. Na verdade, o grande mérito da produção dirigida por Murilo Benício e estrelada pela sua esposa Débora Falabella é a atuação. E não poderia ser diferente, visto a importância do texto - teatral - e também da responsabilidade por construir uma obra depois que foi interpretada tantas outras vezes, também com muita qualidade.

     Inclusive, a forma deste filme é bastante inusitada, e inusitadamente também funciona muito bem. A história transcorre como se fosse a passagem de texto dos atores, um tipo de making off da peça teatral que se está produzindo (na ficção do filme final), além da inclusão de cenas finais da peça pronta, mas que por fim funcionam muito bem como um filme final. 

    Não se pode deixar de notar a presença de Fernanda Montenegro no filme. Ela interpretou Selminha (a esposa de Arandir) na primeira montagem teatral em 1961, e agora nesta produção cinematográfica ela conta um pouco do que viveu na época, mas se destaca ao afirmar no filme que "eles sobreviveram ao que ocorreu em 1964 e nos anos seguintes, e que também sobreviverão agora". 

    Triste, mas verdadeiro.
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Classificação: Cinco Narigadas!

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