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Filme (2.0): "Intimidade entre Estranhos", 2018, 2019, Brasil

2018, Brasil, Drama, direção de José Alvarenga Jr, com Rafaela Mandelli, Milhem Cortaz, Gabriel Contente

Assistido por Jakson Böttcher, O Jacó, no sofá às 22:00

     Ao passar ou se hospedar no Rio de Janeiro, especialmente nos bairros da região sul tal como Copacabana ou Ipanema, e aguçar os sentidos para tentar entender um pouco da relação entre as pessoas, especialmente entre aquelas de classes sociais diferentes, tais como a relação entre os porteiros e os moradores de um edifício, ao ainda dos clientes com os atendentes de um estabelecimento comercial, vai se perceber um abismo gigantesco.

    O exemplo dos porteiros. Eles são majoritariamente advindos do nordeste brasileiro, e são chamados genericamente de "paraíbas". A relação com os moradores dos prédios onde trabalham é esquisita, para se dizer o mínimo. Eles fazem de tudo no condomínio: pegam o lixo e entregam o jornal diário na porta do morador; estacionam e buscam o carro dos donos de dentro da garagem, entregando-os na porta do prédio; zelam com a limpeza; abrem e fecham a porta para qualquer um que entre; parecem ter o poder da organização das áreas comuns, tal como controlar os acessos, quantidades de pessoas no elevador, zelar pelo silêncio. Enfim, são as pessoas que cuidam para que o morador não se incomode com qualquer outro assunto para além da porta do seu apartamento. 

     Porém, há claramente um clima pesado de subserviência. Quem chega de fora e não está acostumado a ser servido como seria de se imaginar como se serviam os integrantes da família real, há um choque e um estranhamento. Aqueles homens se submetem de tal forma, que parecem não ter vontades. Não se vê um ser humano, conversando, agindo com naturalidade. É realmente estranho. No lado oposto, os moradores parecem que agem com uma empáfia impressionante. É realmente esquisito.

     Já os funcionários de estabelecimentos comerciais agem de forma diferente, especialmente para com aqueles que claramente não são da cidade. Eles, os funcionários, também são majoritariamente nordestinos, mas diferentemente dos trabalhadores dos prédios, parecem que se vingam da arrogância dos clientes, e daí, em contrapartida, agem de forma arrogante e presunçosa, tal como se fizessem um favor, e não uma prestação de serviço. Exigem que sejam tratados com a máxima reverência educacional: aí se faltar um bom dia, um boa tarde, um boa noite. 

    A análise é simplista, mas num rápido contato com estas pessoas nota-se um desordenamento comportamental, certamente afetado pela diferença social, que certamente afeta o que se poderia imaginar de um bom relacionamento entre as pessoas. É estranho. É esquisito.

    Ah, o filme? Então, todos estes parágrafos foram escritos ao lembrar que o grande José Dumont, certamente o maior e melhor ator desta produção nacional, que interpreta o porteiro do prédio - seu Zé - é totalmente ignorado na trama, e suas parcas aparições representam exatamente a importância dos porteiros nos prédios cariocas: nenhuma. E no resto, uma trama dramática sem nenhum avanço artístico. Sem graça. Mesmo.
Classificação: Duas Narigadas!

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