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Filme (3.0): "Hoje", 2013, 2019, Brasil


2013, Brasil, Drama
Direção de Tata Amaral
Elenco com Denise Fraga, César Troncoso, João Baldasserini

    Jakson Böttcher, O Jacó
Google Play, às 22:00

    Em 1964 um grupo de militares destituia o presidente eleito João Goulart que fora eleito nas eleições de 1960 como vice-presidente (que recebia votos conforme as regras eleitorais da época) e que tornou-se presidente depois da renúncia de Jânio Quadros, o então eleito presidente daquela eleição.

    Nos anos que se seguiram os militares escolhiam aqueles que governariam a nação (presidentes), os estados (governadores) e os municípios (prefeitos), além de imporem os chamados Atos Institucionais, que dentre muitas ações fechavam as casas parlamentares, caçavam os direitos políticos de opositores, além de dificultar a defesa jurídica de quem se opunha ao movimento militar. 

    Recentemente a Comissão Nacional da Verdade de 2014 apresentou um relatório que informou que mais de 400 pessoas foram mortas ou desaparecidas e que um total de quase 5000 casos de torturas foram registrados entre 1964 e 1985, o período de duração do regime militar. Representando um caso de quem sofreu na pele - literalmente - as ações destes militares, este filme "Hoje" imprime esta dor na personagem de Denise Fraga.

    A mulher representada por Fraga, que depois de confirmados os crimes praticados contra ela e seu desaparecido esposo, recebe uma indenização em dinheiro que visa reparar danos econômicos causados pela ausência do marido, contudo, o que o filme mostra com maestria não são os danos econômicos na vida daquela mulher, mas certamente os danos morais, psicológicos, aqueles que agridem e ferem a dignidade do ser-humano, e que infelizmente são irreparáveis. 

    Agora, imagine estes danos multiplicados nos integrantes das famílias de mais de 400 pessoas mortas ou desaparecidas, somados aqueles que foram influenciados pelas agruras de mais de 5000 pessoas torturadas, além do vilipêndio da cultura, da música, do cinema, das artes literárias, das ocultações de tantas maracutaias que não tinham canal de exposição visto a imensa repressão dos meios de divulgação, enfim, o país viveu certamente seus dias mais tenebrosos, sombrios, e que por incrível que pareça, como uma sombra, vai tomando forma novamente nos dias atuais.

    Toda a história escrita e relatada nas últimas décadas, todo tipo de trabalho acadêmico, jornalístico, factual, cultural, etc., que de alguma forma relata aquele momentos terríveis da ditadura, agora são contestados por aqueles que -------- torturavam -------- matavam -------- escondiam --------. Sim, aqueles que causaram os danos estão tentando reescrever a história, defendendo-se, atribuindo culpa às vítimas. Estão usando dos mesmos argumentos que levaram ao regime de 1964, alegando um colapso na política e seus representantes,  no sistema jurídico (com destaque para o STF), botando a culpa na sociedade, naqueles que divulgam o que se passa, naqueles que ensinam... E o pior não é isso: o pior que é que tem muita gente acreditando. 

    O fim? Talvez não! 1964 acabou em 1985. Mas certamente um novo período perdido. Novamente.      
Classificação: Três Narigadas!

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