Filme (4.0): "Sem Amor", 2018, 2018, Rússia, França, Bélgica, Alemanha [Festival de Cannes]


Rússia, França, Bélgica, Alemanha, 2018, Drama
Direção de Andrey Zvyagintsev
Elenco com Maryana Spivak, Alexey Rozin, Matvey Novikov

    Jakson Böttcher, O Jacó
Sofá, às 20:00

     Vencedor em 2017 de uma das mais interessantes premiações do Festival de Cinema de Cannes, o Prêmio do Juri, que em termos muito incorretos pode ser considerado o terceiro lugar da mais famosa e importante premiação do cinema na Europa, este russo "Sem Amor" do diretor Andrey Zvyagintsev faz jus ao nome que recebeu no Brasil.

    Andrey Zvyagintsev já pode ser considerado um recente queridinho do cinema do velho continente, visto que com frequência os seus filmes - que são poucos, diga-se de passagem - sempre estão sendo premiados por lá. Caso do oscarizado e excelente "Leviatã" [2015], que também ganhou o prêmio de melhor roteiro de Cannes em 2016, e também de "O Retorno" [2003], que dentre outros ganhou o prêmio principal, o Leão de Ouro do também renomado Festival de Veneza.

    Andrey já tem uma assinatura em seus filmes, e é o modo seco, direto até mesmo frio que conta as suas histórias, além de tal característica refletir também em seus personagens, que parecem em muitos caso até desumanos. Inclusive, neste "Sem Amor" a sequência principal da produção ocorre quando o menino escuta de seus pais uma verdade duríssima, é impossível que o espectador fique apático. É incrível, sério!

    Enfim, "Sem Amor" não é fácil, e precisa de uma certa paciência e fígado para ser plenamente curtido.



    No longínquo ano 1962 o Brasil era aclamado no mesmo festival de Cannes que em 2018 premiou este russo "Sem Amor", contudo o feito que o filme "O Pagador de Promessas" [1962] do diretor Anselmo Duarte, cuja imagem estampa o caput deste parágrafo, alcançou jamais fora alcançado novamente por nenhuma outra produção tupiniquim ou de qualquer outra nacionalidade da América Latina, quando ganhou a principal comenda daquele festival: A Palma de Ouro.

    A Palma de Ouro do Festival de Cannes é talvez o prêmio mais disputado do cinema mundial, visto a variedade de países vencedores e também dos diferentes tipos de filmes. Sim, sem dúvidas o Oscar dos EUA é um prêmio importante, e com certeza muito mais conhecido, mas o que o festival francês faz pela arte cinematográfica é sem dúvidas muito menos comercial, sem um viés tão forte do aspecto econômico da exploração da arte, motivo pelo qual ser reconhecido em Cannes é tão importante.

    Outros filmes brasileiros já tiveram algum reconhecimento, tal como "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" [1969] que deu a Glauber Rocha o prêmio de melhor diretor; ou ainda os prêmios de melhor atriz vencidos por Fernanda Torres por "Eu Sei que Vou te Amar" [1986] e Sandra Corveloni no filme "Linha de Passe" [2008]; teve também um filme premiado numa categoria já extinta, o de o Melhor Filme de Aventura em 1953 que foi vencido por "O Cangaceiro" de  Lima Barreto.

   Contudo, nenhum ano foi tão gratificante para o cinema do país de Chico Buarque (que em 2019 numa premiação de outra arte, da literatura, ganhou o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa) como este 2019.

    Neste ano a cultura brasileira foi novamente reconhecida e venceu em duas importantes categorias de Cannes, o O Prêmio do Juri, com o filme de Kleber Mendonça Filho: "Bacurau" [2019] e do Un Certain Regard, o prêmio de melhor filme da mostra paralela de Cannes: "A vida invisível de Eurídice Gusmão" [2019], de Karim Aïnouz. 

    O prêmio de "Bacurau" não é equivalente ao de "O Pagador de Promessas", mas certamente vem muito à calhar especialmente pelo trágico momento que o cinema brasileiro vive em decorrência da falta de sensibilidade com Cultura e Educação da administração federal, que ameaça cortar o principal fomento do cinema brasileiro, além de já ter cortado recursos da educação.

    Enfim, como a luta continua, um importante treinamento se faz necessário enquanto "Bacurau" não estreia, e curtir aos últimos filmes premiados nos anos anteriores na premiação do Juri do Festival de Cannes é quase uma obrigação! Então, voilà!


Palma de Ouro
Grand Prix
Prêmio do Juri
     2018: "Cafarnaum"
     2017: "Sem Amor"
     2016: "Docinho da América"
     2015: "O Lagosta"
     2014: "Adeus a Linguagem" e "Mommy"
     2013: "Pais e Filhos"
     2012: "A Parte do Anjos"
     2011: "Polisse"
     2010: "Um Homem que Grita"
     2009: "Aquário" e "Sede de Sangue"
     2008: "O Divo"
     2007: "Luz Silenciosa" e "Persepolis"
     2006: "Marcas da Vida"
     2005: "Qīng hóng"
     2004: "Matadores De Velhinha" e "Mal dos Trópicos"
     2003: "Às Cinco da Tarde"
     2002: "Intervenção Divina"

     E viva o cinema!  
Classificação: Quatro Narigadas!


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