Filme (4.0): "Temporada", 2019, 2019, Brasil


2019, Brasil, Drama
Direção de André Novais Oliveira
Elenco com Grace Passô, Russo Apr, Rejane Faria


    Jakson Böttcher, O Jacó
Netflix, às 22:00

     Recentemente os gaúchos do Papricast lançaram um programa que dentre inúmeros assuntos discutiram como é viver e pensar num país que ultimamente passa por uma situação de pensamentos tão retrógrados, notadamente por este momento estar sucedido de outro que parecia ser o contrário, onde o ser-humano era prioridade.

    E uma das reflexões que ressoou com intensidade no editor deste caderno de cinemas é de que ao se curtir uma obra artística, e neste caso o cinema é a expressão em questão, é impossível dissociar o que se esta sendo dito no filme sem a devida contextualização com o momento que se vive na sociedade, sem uma discussão política especialmente.

    Obviamente que nem toda obra artística contém conteúdo que inspira reflexão, que quer discutir algum assunto, contudo não há dúvidas que a maioria delas sim, sim quer dizer algo além da explosão, do beijo, do tiro. Talvez, até mesmo aquela obra que não tenha sido concebida pelos seus produtores para gerar reflexão, seja capaz de fazê-lo no espectador mais sensível. 

     Toda esta introdução se fez necessária para que esta brilhante obra do cinema nacional, "Temporada", possa ser curtida da melhor forma possível. Numa visão superficial o filme conta a simples história de uma mulher que é abandonada pelo companheiro (Marido? Namorado?) depois que se muda de cidade para trabalhar numa atividade de combate a endemias. Contudo, o que o diretor André Novais traz é um pouco mais profundo.

     A discussão suscitada por Novais, diretor também do imperdível "Ela Volta na Quinta" de 2014, é o do machismo na nossa sociedade. Contudo, faz sutilmente, e o mais legal é que no mesmo tempo que uma personagem sofre as consequências do machismo (Grace Passô), outro (Russo Apr) dá uma lição de como o homem deve se comportar. É sutil, mas é incrivelmente chocante.

    O personagem que interpreta o companheiro de Grace Passô não aparece no filme, e sua ausência é justamente a sua ação mais nefasta na vida daquela mulher que luta para sobreviver. O que Novais quer discutir é o quanto o homem, o marido, o companheiro é capaz de se mover, de mudar a sua vida, de submeter-se a uma mudança motivada pela necessidade de uma mudança na vida (no caso profissional) de sua esposa, de sua companheira, de sua mulher. E aqui o pior acontece, talvez motivado por um machismo enraizado, ele não se submete, não aceita que terá que mudar de vida porque a mulher tem a oportunidade de um emprego melhor. Além de não se submeter o que faz, faz da pior forma: simplesmente fugindo sem dar satisfação.

     O outro lado da discussão fica a encargo do personagem interpretado por Russo Apr. Novo colega de trabalho da personagem de Grace Passô, Russão é uma figura comum, e seu tamanho e idade não parecem condizer com seu comportamento, que acomodado no trabalho gosta de curtir e jogar videogames. Contudo, quando descobre que será pai resultado de um caso do passado, ele motiva-se a procurar uma nova fonte de renda (cabeleireiro, acredita?), e conta com felicidade a boa nova.

    Dois homens e duas posturas. Uma digna, a outra desprezível. Tudo isso diluído num filme sutil, sem exageros, sem cenas de drama exagerado. Enfim, o cinema não será mais o mesmo.
Classificação: Quatro Narigadas!

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