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Filme (3.0): "A Cidade dos Piratas", 2018, 2018, Brasil


2018, Animação, Brasil
Direção: Otto Guerra

    Jakson Böttcher, O Jacó e sua Flor
46º Festival de Cinema de Gramado 2018, às 21:00

    A dinâmica da apresentação dos filmes da mostra competitiva do Festival de Cinema de Gramado é mais ou menos assim: os apresentadores Renata Boldrini e Leonardo Machado (as vezes junto de Marla Martins) informam quais filmes serão exibidos naquela noite, começando com um curta metragem brasileiro,  seguido de um longa da mostra competitiva, um sula-americano ou brasileiro. Depois de um intervalo de dez minutos uma nova seção de curta e longa  nacionais encerram a noite.

    Antes de cada uma destas sequências curta/longa os apresentadores chamam ao palco do Palácio dos Festivais alguma pessoa responsável pela produção, normalmente o diretor, que acaba trazendo consigo atores, produtores, equipe técnica, etc., e estas pessoas tecem comentários sobre a produção, sobre as dificuldades de fazer cinema no Brasil (tema recorrente!), além, é claro, de menções à situação política e de políticos brasileiros. Inclusive, quando o tema é política (também sempre muito recorrente), as manifestações pró e contra ao comentarista sempre são exacerbadas, com sonoros "Fora Temer", "Lula Livre", vaias e aplausos, atribuindo ao festival um componente crítico muito bacana. Este editor deste caderno de cinema gritou um roto "Bolsonaro, não", e foi alvo apenas de críticas negativas, sinal muito tenebroso dos tempos que hão de vir.

    Bom, tudo isso para informar que foi a apresentação pré-filme do diretor Otto Guerra que provavelmente foi a mais interessante desta 46ª edição do Festival de Gramado, especialmente quando defendeu aos berros o "Lula Livre", motivando muitos aplausos e vaias, junto gritos que contradiziam-no, tal como "Ladrão é na cadeia", ecoando de algumas vozes (de senhores de cabelos brancos) da platéia. Foi bem bacana ver os pomposos, glamurosos e metidos espectadores da burguesa (!?) Gramado manifestando-se como piquetistas eleitores... 

   Otto é um renomado e crítico cartunista, desenhista, produtor e diretor cinematográfico, publicitário e sem dúvidas, antes de tudo, um cara controverso. Sua posição é sempre crítica e ácida, inclusive quando fala de si próprio, notoriamente relatado neste "A Cidade dos Piratas". 

    O filme é um rio de críticas e piadas infames, e segundo ele, Otto, o produtor e realizador da produção, não foi possível fecha-lo de maneira coerente, visto que misturou histórias reais da cartunista Laerte (o filme deveria ser sobre ela), com uma autobiografia, além de paralelos críticos que coincidem muito com o que vivemos hoje, e para tentar emendar estas histórias ele incluiu "cenas" e episódios tipo making of, relatando as discussões e os problemas que aconteceram durante a produção do filme. Enfim, uma maluquice que inacreditavelmente funciona, nos fazendo pensar sobre nossa sociedade atual, tanto sob o ponto de vista político, quanto social, porém, especialmente que nos faz rir. Este é o grande mérito filme: fazer rir.

    Enfim, Otto é louco, sem dúvidas, e suas produções inegavelmente não passam desapercebidas. Inegavelmente.

Classificação: Três Narigadas!

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