Filme (5.0): "As Boas Maneiras", 2017, 2018, Brasil, França


Lançamento 2018
Direção de Juliana Rojas, Marco Dutra
Elenco com Isabél Zuaa, Marjorie Estiano, Eduardo Gomes
Fantasia, Drama
Brasil, França

    Jakson Böttcher, O Jacó
Sofá, às 22:00

     O cinema é áudio-visual, mas em muitas obras o conteúdo assume um protagonismo que impede que seja dissociada a qualidade do filme daquilo que quer ser dito, e este "As Boas Maneiras" é um exemplo primoroso disto. Isto quer dizer também que se por acaso o espectador tomar conhecimento antes de assistir ao filme algumas informações relevantes sobre a história, sobre aquilo que o filme quer contar, a experiência pode ser prejudicada, logo, o texto abaixo conterá tais informações prévias e conhecê-las pode prejudicar o saborear deste filme... Então, só leia se já viu o filme. Ou não.

    "As Boas Maneiras". Este título é insignificante, e já pelo começo o filme começa bem, pois não se revela nele, pelo título, alguma informação que venha a explicar sobre o que vai ser contado nesta produção dos diretores Juliana Rojas e Marco Dutra. Talvez conhecer previamente um dos filmes mais interessantes da dupla, o interessantíssimo "Trabalhar Cansa" de 2011 seja mais produtivo para tentar imaginar o que se pode esperar desta obra de 2018. Talvez.

    O filme tem algumas camadas muitos distintas: a sua primeira metade se passa fechada toda dentro de um moderno apartamento, numa relação entre duas mulheres que podem ser consideradas à parte da sociedade. A relação que se estabelece entre Ana (Morjorie) e Clara (Zuaa) suscita discussões de lutas de classes, de gênero, num inicial embate muito franco, mas que no decorrer do filme se torna útil, fraternal, amoroso e por fim, carnal. Literalmente carnal.

    Cabe salientar que a atuação destas duas atrizes é surreal. Suas presenças em cena, tanto uma quanto a outra são cada vez mais bacanas, e vê-las atuando, interpretando suas fortes personagens, interagindo entre si, enfim, vê-las é um deleite da arte cinematográfica. 

    Este meio do filme encerra-se numa chocante cena de terror, digna dos melhores estúdios de Hollywood. Sério. O aspecto visual do parir do filho de Ana é muito crível, e a cena subsequente, quando Ana o abandona as margens do rio (Tietê, Pinheiros? Não sei, mas São Paulo está bela como nunca tinha visto), além da composição musical que se segue marca com muita beleza e emoção o fim da primeira metade do filme.

    A segunda metade parece outro filme. Troca-se o ambiento hermético do moderno apartamento de Ana pela cidade de São Paulo, numa casa do subúrbio, numa rua escura com a grande cidade ao fundo, numa escola, num shopping. Passam-se os anos e o filho de Ana, agora de Clara, está uma criança formada. Aqui entra em cena (literalmente) o personagem lobo do Miguel Lobo. A presença dele é muito cativante, e em cada cena que ele surge não há um deslize de interpretação, não há algum desvio que poderia ser comum na interpretação de um primeiro filme por um ator tão jovem... Lobo age bem. Muito bem.

    Nesta segunda parte o filme arrasta-se um pouco, mas no seu fim, a sequência final da ação da mãe e do filho lobo acontece num timing excelente, e a posição de ataque dos dois, mãe e filho, é o fim perfeito para este brilhante filme brasileiro. 

    Além da ótima história, há menção honrosa a sequência de quadrinhos que conta como Ana engravidou de Joel, o lobo. Também, as sequências de músicas cantadas pelas atrizes é recheio muito saboroso desta produção. Enfim, viva o cinema brasileiro.

    Viva.
Classificação: Cinco Narigadas!

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