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Filme (4.5): "Arábia", 2018, 2018, Brasil


2018, Drama, Brasil
Direção de Affonso Uchoa e João Dumans
Elenco com Aristides de Sousa, Murilo Caliari, Renata Cabral

    Jakson Böttcher, O Jacó
Sofá, às 22:00

     Neste caderno de cinema corriqueiramente há debates sobre a maior relevância de alguns elementos cinematográficos em relação a outros, e um destaque é o da importância do efeito visual, sonoro e do modo como a história é contada versus o conteúdo, a história propriamente dita. Para exemplificar, um filme com altos requintes técnicos e artísticos como Avatar  [2009] - que não tem uma boa história - é uma melhor produção do que As Boas Maneiras [2018] - que tem um conteúdo sensacional?

    A resposta certamente será diversa principalmente dependendo de cada espectador, ou também poderá ser diferente para um mesmo espectador, considerando que este possa estar em condições muito diferentes em momentos diferentes de sua vida. Bom, mas porque este questionamento é introdutório deste "Arabia", filme brasileiro que estreou em circuito comercial de forma  bastante limitada no nosso país?

    "Arábia" consegue aliar o contar uma história (o conteúdo!) a uma montagem cinematográfica muito boa (a forma técnica!), dando vida a uma obra de uma de grande complexidade, que discute problemas sociais de forma contundente, especialmente quando fala sobre as relações do trabalho entre o empregador e o empregado, formalidade e informalidade nas relações trabalhistas; discute muito bem as motivações do ser humano, suas ambições, suas motivações para viver, para trabalhar, para ser livre; conversa sobre a conjuntura atual das famílias, a importância do trabalho versus a família; discute relações fraternais; conversa sobre amor, romance, amizade...

    Tecnicamente é impecável. Sério! A introdução do filme, aquela parte inicial que costumeiramente é apresentada antes de aparecer o nome do filme tem uma duração de mais de uma dezena de minutos, e faz o espectador acreditar que vai assistir a um filme de um certo tipo, contando uma certa história... E, de repente, aparece o nome "A R Á B I A" e daí sim o filme começa. 
    
     No desenrolar conhecemos Cristiano, interpretado pelo ator Aristides Souza - inclusive, este ator tem uma história de vida muito pouco incomum. Este editor deste caderno de cinema não erra ao informar que talvez este seja o personagem no qual eu mais me importei numa história cinematográfica. Sim, e além de todos os méritos já citados para este filme, a empatia e o sentimento de pertença, de preocupação que gera-se por ele é sem dúvidas o ponto alto. Apesar de já sabermos o que acontecerá com ele, visto que a introdução do filme já nos informa sobre isso, a trajetória e a os percalços de Cristiano tornam-no um personagem incrível. 

    O arremate final da história é perfeito, e após o apagar das luzes, voltar para cena do início do filme quando Cristiano está na cama do hospital finaliza o filme brilhantemente. 

     "Arábia" é um filmaço.    

    Ah, o excelente Cinematório Café discutiu o filme e entrevistou os diretores desta produção na edição #59 de seu podcast. Clique aqui para ouvir!   

Classificação: Quatro e Meia Narigadas!

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