Filme (4.0): "Patty Cake$", 2017 [2017], EUA


Lançamento 2017
Dirigido por Geremy Jasper
Com Danielle Macdonald, Bridget Everett, Siddharth Dhananjay
Drama, Musical
EUA

    Jakson Böttcher, O Jacó
Sofá, às 22:00

     Dificilmente este editor deste caderno de cinema assistiria a um filme com uma sinopse parecida com a deste "Patty Cake$": em Nova Jersey, EUA, uma jovem que enfrenta muitos problemas no seu convívio social devido a sua aparência e condição social e familiar enxerga no rap e na relação fiel de seus amigos um fio de esperança para sua difícil vida.

   Certo? Não! Neste caso felizmente o preconceito em relação a sinopse foi superado e eu pude curtir - e curti muito, mesmo! - esta produção que versa sobre o mundo do rap, mas que serve como exemplo de como a expressão artística pode mudar a vida das pessoas, de como o arte pode ser um mecanismo de resgate social, da auto estima, enfim, de como acesso das pessoas àquilo que elas gostam e tem aptidão pode ser fundamental em suas vidas.

    Veja o filme para entender pois a produção é muito boa, mas, aqui vou fazer um paralelo com aquilo que vivemos no nosso país, no brasilzão, especialmente numa expressão artística muito criticada: o funk carioca. Antes de mais nada, que fique claro que o meu gosto artístico e musical não coincide nem com o rap e sequer com o funk, mas o exercício de entender por que isso fascina tantas pessoas é salutar, principalmente numa época de tanto extremismo que vivemos recentemente por aqui.

    Em 2017 Anitta, umas das mais recentes notoriedades musicais do Brasil lançou um clipe que vem gerando muita polêmica, especialmente devido à discussão entre objetificação do corpo da mulher e/ou do empoderamento feminino, mas, que eu enxergo como expressão da sociedade carioca, e talvez de uma representativa parcela mais pobre da população brasileira, que visualizam no funk o reflexo do que vivem no dia a dia, daquilo que não é simplesmente música, é vida... Tal como o que vemos no filme de "Patty Cake$".

    Isto quer dizer que independente da problematização discutida no tipo de música produzida por ela, sem dúvidas esta cultura expressa neste estilo musical representa aquelas mulheres que vivem nos morros cariocas, que representa a forma como aqueles homens as enxergam, que talvez seja um dos escapes daquela difícil vida, que mostra como são os seus corpos de verdade, sem maquiagem, sem plástica, enfim, não tenho dúvidas que tudo o que funk é, é por fim representação da sociedade, e que talvez seja equivocado discutir sua qualidade ou a sua necessidade de existência, mas sim deveríamos discutir a condição social daquelas pessoas, a falta de segurança, a falta de empregos, a falta de saúde, a falta de educação. 

    Ainda sim, seria injusto atribuir ao funk e tudo aquilo que a sua representação visual expõe à péssima condição social das pessoas que vivem no Rio de Janeiro, por fim, contradizendo toda a justificativa que fiz no parágrafo anterior, e faço isto trazendo esta contradição ao meu próprio diálogo quando lembro das festas na ilha de Ibiza, na Espanha, que apesar de serem festejadas por pessoas de cores e condições sociais e financeiras bem diferentes das festas dos morros cariocas, no seu cerne podem trazer à tona a mesma problematização dos clipes da Anitta. Ou não.

Classificação: Quatro Narigadas!

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