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Filme (4.0): "Paterson", EUA, 2017 [2017]


Lançamento em 2017
Direção de Jim Jarmusch
Elenco com Adam Driver, Golshifteh Farahani, Rizwan Manji
Drama, Comédia

EUA

    Jakson Böttcher, O Jacó e sua Flor
Espaço Itaú de Cinema, às 21:00

Poema de amor
Nós temos muitos fósforos em nossa casa.
Sempre estamos com eles em mãos.
No momento, nossa marca preferida é Ohio Blue Tip, mas antes,
gostávamos da marca Diamond.
Isso foi antes de descobrirmos os fósforos da Ohio Blue Tip.

São caixinhas resistentes, pequenas,
muito bem empacotadas, com rótulos azul-marinho, azul-celeste
e brancos, com palavras escritas no formato de um megafone
como se fosse para gritar ainda mais alto ao mundo:

"Aqui está o mais lindo fósforo do mundo,
de 3,8 cm de caule de pinho macio, com uma cabeça
roxa-escura granulada tão contida, furiosa e teimosamente pronta
para entrar em chamas, acendendo, talvez, o cigarro
da mulher que você ama pela primeira vez.

   Esta poesia foi escrita por Paterson (Adam Driver), personagem aparentemente pouco complexo deste filme dirigido pelo sensível Jim Jarmush, que anteriormente também dirigiu dentre outros "Flores Partidas" [2005], "Amantes Eternos" [2013], filmes que preservam entre si notadamente características de produções com personagens mais pensativos, contemplativos.

    O herói do filme é Paterson. Um um homem comum. Seus problemas são de homens comuns e também pouco ambiciosos. Sua esposa e o cachorro dela não são tão comuns quanto ele, mas, certamente não divergem muito da normalidade dos vulgares. Seu trabalho é comum. Sua casa e seus amigos também não são tão incomuns. Enfim, sim, Paterson - curiosamente homônimo ao nome da cidade onde ele vive - é um personagem extremamente comum, e talvez esteja ai justamente o atrativo do filme de Jarmush.

    Aos poucos e também através dos dias que se passam o espectador fica aguardando algo inesperado acontecer, talvez a descoberta da traição da esposa de Paterson, ou ainda um grave acidente em seu trabalho, ou um amigo que se suicida, enfim, espera-se e imagina-se que algo relevante acontecerá, todavia, com o transcorrer do tempo a expectativa de quem assiste ao filme se mistura ao dia-a-dia de Paterson, e inesperadamente a certeza de que algo acontecerá é trocada por um sentimento de rotina, de repetição, de tranquilidade. 

    O espectador parece que passa a entender aquele homem, que enxerga naquela repetida rotina uma beleza sensível, refletida em suas poesias. 

    Também, durante toda a produção parece haver um surrealismo oculto desenhado por Jarmush, especialmente nos gêmeos que se repetem cena após cena e também no cão que parece reagir e afrontar Paterson, mas facilmente tudo é encarado como poesia, talvez um pouco insana, sim, mas poesia.

    Enfim, Paterson é um filme cativante, que faz, talvez, refletirmos sobre como estamos tratando o nosso dia-a-dia, ou, talvez, não.
Classificação: Quatro Narigadas!

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