Pular para o conteúdo principal

Filme (3.5): "Boi Neon", Brasil, 2015 [2016]


Lançamento 2016
Direção de Gabriel Mascaro
Elenco com Juliano Cazarré, Maeve Jinkings, Alyne Santana
Gênero Drama
Nacionalidades Brasil, Uruguai, Holanda

    Jakson Böttcher, O Jacó
Canal Brasil, às 22:00

     A vaquejada é um evento comercial muito forte no nordeste brasileiro, e tal como os rodeios do sudeste fazem parte da cultura local, relembrando num formato de competição os antigos métodos empregados pelos criadores de animais que tinham como principal atividade econômica a criação de bovinos.

   Neste contexto - da vaquejada especificamente - este "Boi Neon" dirigido por Gabriel Mascaro e estrelado pelos excelentes Juliano Cazarré (Iremar, o peão costureiro), Alyne Santana (Cacá, a menina) e Maeve Jinkings (Galega, a caminhoneira, mecânica e dançarina) é um filme, digamos, diferente.

   A produção tem um roteiro que não tem a pretensão de chegar a algum lugar, ou seja, as quase duas horas do filme mostram a vida destas três personagens que no dia-a-dia lutam pela sobrevivência, pelo que comer amanhã, pelos seus humildes sonhos, por um abraço, por um carinho, enfim, vemos como eles vivem, ou melhor, sobrevivem, sem chegar a um futuro, explorando quase nada do passado. Enfim, um retrato daqueles dias daquelas pessoas.

   Implicitamente vê-se uma forte crítica social. A vaquejada é um evento que atrai muitas pessoas, inclusive aquelas que sequer tocaram num boi, numa vaca, mas que gostam da "cultura". Também atraem muitos produtores e comerciantes de animais, tornando o evento além de entretenimento um grande expositor de espécimes de raça, os seus produtos. 

    A crítica se posiciona justamente quando mostra a vida sofrida daqueles que trabalham na retaguarda destes grandes eventos, que sequer têm onde morar, onde tomar um banho decente, onde dormir, onde comer, onde viver. São estes os três protagonistas. Sem eles o evento não ocorreria. Para eles o evento não ocorreria. Mas graças ao evento, eles ainda tem alguma esperança. Pequenas, mas as têm.

   A esperança de Iremar é inusitada: este peão, que prepara os bois para a grande festa, tem como sonho trabalhar na indústria de roupas de nordeste. Parece ter o dom artístico para tanto, mas suas chances de mudar de vida parecem ser mínimas; Galega não encaixa-se no estereótipo de uma mulher comum, digamos assim, talvez, não no estereótipo preconceituoso de uma mulher que viveria nas condições que ela vive, pois ela é a motorista do caminhão e sua mecânica. 

    Possivelmente estas duas personagens e seus "diferentes" comportamentos agregam o maior do valor do filme, que apesar de versar sobre um tema social difícil, duro, não o faz pelo gênero de suas personagens, ou seja, apesar de mulher, Galega sofre como ser-humano, independente de seu sexo. O mesmo vale para Irimar, que mesmo sendo homem, tem suas vontades e esperanças de melhorar de vida, fazendo o que gosta, enfim, independente de ser do sexo masculino.

   "Boi Neon" é estranhamente interessante, talvez, como seria um boi pintado de neon.


Premiações do filme pelo mundo
Classificação: Três e meia Narigadas!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Simplesmente ser!

O Reencontro. Outro conto curto.     Novamente este caderno de cinema vai diversificar o seu conteúdo, e mais uma vez um conto curto é apresentado aqui no lugar de uma resenha cinematográfica, porém, desta vez ligeiramente diferente do conto anterior.     A proposta agora é que se faça a leitura do conto, e quando surgir na postagem o vídeo da música da Carminho, ela deve ser escutada com cuidado e atenção, para que depois a leitura se complete. Combinado feito, segue o texto, o conto curto. Litro era um rapaz ansioso. Tudo o que se dedicava a fazer era complexamente decidido por uma sequência confusa de pensamentos, e que não raramente resultavam em poucas ações efetivas. Contudo, ele gostava muito de algumas coisas, e para elas seu raciocínio era rápido e poucas vezes errava: nadar e viver naquela cidade onde nasceu eram as ações mais assertivas. Ele gostava mesmo.     Odionta era decidida. Não daquele tipo mandona ou carrancuda, mas simplesmente suas decisões costumeiramente eram

Lamb (2021)

A utilidade dos filmes ruins 2.0 Narigadas, Islândia, Polônia, Suécia , 2021     Já faz bastante tempo que uso uma frase de efeito para tentar me fazer entender sobre um pouco do jeito que exerço a minha cinefilia, e ela explica um sentimento que me move pelo grande mundo do cinema: "um filme somente é bom ou ruim depois de você assisti-lo". Isso quer dizer que mesmo que alguém não indique algum filme, ou algum site ou especialista não classifique positivamente uma obra cinematográfica, ou que ainda o filme não esteja laureado por algum prêmio, mesmo assim se por algum motivo há algum interesse em assisti-lo, ele deve ser assistido.      Sim, assista.      Isso se deve ao fato de eu considerar que uma das coisas mais importantes para quem curte uma obra artística é o sentimento que este ato vai gerar na pessoa, e como saber qual é a condição da pessoa que vai assistir ao filme, considerando que este é um fator muito relevante para aceitação ou não? Enfim, resumidamente e como

Oscar 2023

Do tapa ao topo Oscar 2023! Gosto muito de fazer listas: filmes, cinema, premiações, festivais, enfim, tudo que é possível ordenar e classificar pode ser objeto da minha obsessão por organizar, ou seja, é isso, uma vontade de sempre enxergar de forma organizada aquilo que eu quero ver e mostrar.  Na arte do cinema, quando chega o período do Oscar, Festival de Gramado, Mostra de São Paulo, Olhar de Cinema, Festival de Cannes, Festival de Veneza, Festival de Berlin, tudo vira lista, e como agora estamos às portas da maior premiação do cinema do mundo (dos Estados Unidos?), nada como uma boa listinha com palpites. Enfim, vamos até ela. Regras da lista: Filmes ordenados por ordem decrescente da minha preferência; Em negrito indico o meu palpite do vencedor; Em itálico indico o filme que eu não assisti. MELHOR FILME Top Gun: Maverick Avatar: O Caminho da Água Os Fabelmans Triângulo da Tristeza Nada de Novo no Front Os Banshees de Inisherin Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo Tár Entre Mulhe