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Filme (5.0): "O Abraço da Serpente", Colômbia, Venezuela, Argentina 2016 [2016]


Lançamento 2016
Direção Ciro Guerra
Elenco Jan Bijvoet, Brionne Davis, Nilbio Torres
Gêneros Drama, Aventura
Nacionalidades Colômbia, Venezuela, Argentina 

    O impacto inicial deste inusitado colombo-venezuelano-argentino filme, que concorreu no disputado Oscar 2016 como melhor filme estrangeiro (e perdeu, injustamente diga-se de passagem), é arrebatador. 

    Tudo começa num preto e branco que nos faz pensar que há um erro na projeção: "o que justificaria fazer um filme na Amazônia em preto e branco, inibindo o exuberante verde da natureza?". Na sequência, os personagens centrais da trama são apresentados em poucos segundos, e diferentemente do que se possa imaginar, o indígena Karamakate afronta o frágil homem branco Théo, e que com a ajuda do também Manduca iniciam uma triste saga pela selva amazônica.

   O termo "triste" empregado para qualificar a saga que os três fazem pela selva amazônica diz respeito aquilo que os três vão encontrando pelo caminho enquanto buscam a flor yakruna, única capaz de curar a doença de Theo. Estes encontros resumem a história dos homens brancos enquanto "dominavam" as terras amazônicas, alterando indelevelmente a cultura indígena, seus costumes e principalmente suas crenças religiosas. 

    Todavia, o que marca o filme não é o seu conteúdo histórico: dominação dos brancos europeus e extermínio da civilização indígena. Facilmente poderia-se crer que a história tem o objetivo de contar o resultado de uma fraterna amizade entre um frágil homem branco e dois indígenas, mas também não se trata disso. Ainda, o filme poderia existir para mostrar o quanto é voraz a natureza e pequena a força de homens perante tão exuberante expressão natural, mas não, não é esta a força deste filme. 

  "O Abraço da Serpente" nos coloca na posição do homem, da pessoa do índio Karamakate, e isso sim revela para que veio este filme. Vê-lo decidir ajudar o homem é branco é algo quase indecifrável: o que passou por sua cabeça ao ver a anta entrar na água e isso ser razão para ajudar Théo? Como aceitar a estratégia do cuidado da natureza, por exemplo, quando evitou de comer peixes antes das chuvas? Como aceitar que através do consumo de um alucinógeno é possível alcançar respostas que direcionarão a vida? 

    A ausência de razão que impede o entendimento disso, que impede a aceitação de respostas plausíveis para estas questões certamente é fonte de toda a ignorância praticada pela civilização branca contra a cultura indígena, e expressar isso, fortemente representando por Karamakate e seus devaneios é a razão da existência deste filme. Até mesmo o verde da selva amazônica pode ser colocada em segundo plano, ou melhor, nem existir.






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