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Filme (2.5): "O Tesouro", França, Romênia, 2016 [2016]




Lançamento 2016
Direção de Corneliu Porumboiu
Elenco com Toma Cuzin, Radu Banzaru, Florin Kevorkian
Gênero Comédia, Drama
Nacionalidades França, Romênia      

    Vivemos num mundo diferente. Melhor? Pior? Escolher uma resposta pode não representar com precisão pelo que passamos, mas certamente podemos afirmar: vivemos num mundo diferente de tudo que já presenciamos, eras e eras e o mundo de hoje está incomparável a tudo o resto passado. 

   Bom, folheando este mundão do cinema, encontrei uma interessante "resistência" ao modo de vida atual. Bem verdade que esta "resistência" se vale das benesses provenientes principalmente da tecnologia que nos inunda, mas o texto de apresentação deste grupo vale como reflexão. Não como verdade, mas repito, como reflexão.

Nota. Este filme "O Tesouro" foi apresentado no Festival Indie 2015.

(fonte: www.indiefestival.com.br)

"ESTAMOS NOSTÁLGICOS

“Estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido” ( Jean Baudrillard em “Simulacro e Simulação”)

Acabaram-se os telefonemas de longa distância discados por uma telefonista na cabine da telefônica, na volta da praia no verão, com os pés queimando nas havaianas surradas e...cheias de areia; acabaram-se os cliques das Kodak Instamatics e a ansiedade ao buscar o filme 35, ASA 100, nas lojas fotopticas da vida; acabaram-se as polaroides lindas e borradas e seus eternos 10 minutos de espera instantânea! Acabaram-se as cartas escritas à mão ou na sua Olivetti velha, de tinta vermelha e preta. Acabaram-se as idas ao correio, a coleção de selos, a espera pela resposta. Acabaram-se as esperas. A carta de amor, a resposta da amiga no intercâmbio no exterior; que chato, acabou-se o dilema.

Acabaram-se os tipógrafos, as impressões artesanais, o linotipo.

Jogamos fora o tape-deck, o toca-disco, o 3 em 1, doamos nossos LPs em vinil, nosso walkman, nossas K7 com as seleções dos anos 80. Doamos nossa câmera Super 8, e guardamos no armário nossos VHS.

Queríamos ser modernos.

Acabaram-se os novos filmes em 35mm, o fotograma, o negativo, as cópias cheias de textura e profundidade. Acabou-se o barulhinho do projetor ao fundo, a sensação da luz da projeção atravessando a sala. Acabou-se a Kodachrome, o formato 1.33, o Cinemascope. Acabaram-se, em parte, os cinemas de rua.

Dizem que o mundo melhorou. No mundo do passado, o tempo simplesmente passava sem sobressaltos. Não existia o verbo “ticar”. Você poderia esperar na varanda, na rua, na casa da avó, deitado, olhando a cara do tempo... Você olhava para o nada. Você batia papo na locadora de vídeo.

Estamos nostálgicos.

Queremos algo daquela experiência de volta. Voltamos a deixar a barba crescer, a vestir roupas de puro algodão, a plantar tomates orgânicos, a andar de bicicleta, a moer o café, a exigir a presença de alguém. Queremos uma samambaia bem verde caindo da cristaleira na sala. Queremos subir o Monte Roraima e sentir frio, fome, medo. Queremos voltar a ver o Machu Picchu, comprar artesanato na feira, e comer comidas de rua. Queremos parques, quintais, comida fresca, e quem sabe tomar banho de rio, procurar por uma cachoeira, criar bichos. Queremos ir ao cinema, ver pessoas de carne e osso, assistir a um filme clássico, falar com o outro tomando um café. Estar presente num festival de cinema.

Queremos imprimir nossos cartazes de maneira artesanal.

Queremos a rua.

Estamos cansados de ser virtuais, tecnológicos, descolados. Estamos cansados de consumir coisas descartáveis. Queremos ser mais humanos. Materializar a vida. Brincar de pedra, papel, tesoura.

Queremos tudo, do ontem e do agora, e nos sentir próximos do nosso passado, agarrá-lo, decifrá-lo, analisá-lo. Queremos que nossos filhos saibam quem somos e quem fomos. Folheando o álbum de família amarelado. Queremos chorar ao assistir nossos VHS antigos. Queremos lembrar como era na época da faculdade, da greve, dos movimentos estudantis. E queremos ser melhores ainda e aceitar tudo e todos. Queremos viajar e esquecer... sentir, tomar cerveja com os amigos e desmaiar na rede, sem responder ninguém. Sem postar nada. Queremos não responder a um chamado, uma mensagem, ficar em silêncio por alguns minutos, ou algumas horas e resgatar o ócio.

Estamos com saudades de nós mesmos.

A REBELDIA DOS 15

O INDIE Festival completa seus 15 anos de idade aqui e agora. E talvez, seja ainda um pequeno rebelde. Sempre em busca de reflexões sobre o cinema independente. Sem querer corresponder a nenhuma lógica externa de mercado ou à regras que determinem seu formato e escolhas, chegamos em um momento crucial de mudanças.

Queremos voltar no tempo com as retrospectivas e avançar para além do contemporâneo, ao mesmo tempo. Queremos ver nosso público instigado. Desejamos que o menino de 18 anos que veio ao primeiro INDIE em 2001, pela primeira vez em Belo Horizonte, retorne, física ou mentalmente, ao INDIE hoje com seus 33 anos. E que este menino seja um homem com um olhar crítico para o cinema como um todo. Queremos que o cinema seja uma escola livre para o pensamento crítico. Queremos que algo de fato aconteça.

(Francesca Azzi, Diretora do INDIE Festival)"

    Interessante.
Classificação: Duas e meia Narigadas!

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