Filme (4.5): "Que Horas Ela Volta?", Brasil, 2015



Lançamento 2015 
Dirigido por Anna Muylaert
Com Regina Casé, Camila Márdila, Michel Joelsas
Gênero Drama
Nacionalidade Brasil       

    O cinema nacional é de fato escorraçado por todos os lados: o grande público adora as discutíveis comédias globais e menospreza os dramas e demais gêneros; as distribuidoras, no reboque do público, não fazem muito esforço para disseminar as obras de qualidade; os exibidores, ou melhor, a disponibilidade de salas de cinema são limitadas pelas grandes redes internacionais que priorizam a exibição dos grandes blockbusters norte americanos; por fim, restam aos realizadores um esforço descomunal para fazer um filme que talvez se limitará à projeção em festivais - Gramado, por exemplo - e ao home vídeo, que cada vez está limitado à pirataria e alguns canais de cinema brasileiro, tal como o extraordinário Canal Brasil.

   Isto quer dizer que quando uma produção fora dos estereótipos ruins citados acima consegue projetar-se significa que com certeza trata-se de um filme de qualidade? Bom, a resposta pode não ser unânime para todo tipo de filme que consegue fugir da casinha do convencional, mas, que este "Que Horas Ela Volta?" é um desses raros casos, isso o é.

   Tecnicamente a produção é excelente. As interpretações estão muito, mas muito boas, principalmente a mãe e empregada doméstica (não nesta ordem, é claro!) Regina Casé e sua filha Camila Márdila, que roubam o filme para si, deixando pouco espaço para os demais. Inclusive, o pai e patrão (que na história acaba não exercendo nenhum destes papéis) interpretado por Lourenço Mutarelli faz uma atuação tão singela que também se destaca.

   Os momentos de observação e "sossego" da personagem de Casé criam pausas no filme para que o expectador possa entender e talvez digerir o que está se passando. Inclusive, estes momentos de paz terminam quando da chegada da sua filha, vinda do nordeste para prestar um difícil vestibular na faculdade de arquitetura de São Paulo (FAU). 

   O embate social entre a trabalhadora empregada doméstica que sustenta sua filha que tem sonhos de um futuro melhor versus a família burguesa que sequer trabalhou para conquistar todas as posses que possui é pano de fundo para uma discussão maior: o cuidado de três mães para com os seus filhos, e também as consequências deste zelo nos resultados tanto práticos (passar no vestibular, por exemplo) quanto psíquicos e comportamentais (encarar os desafios da vida, outro exemplo) de suas proles. Eis aqui a maior beleza do filme.

   Por fim, "Que Horas Ela Volta?", usa o seu background social, numa amostra resumida a uma mansão paulistana, para expor a dureza e a dificuldade da relação entre mães e filhos, criando além disso um filme belo e tecnicamente impecável.

   Viva o cinema nacional. Viva.

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