Filme (4.5): "O Pequeno Príncipe", França, 2015

Lançamento 2015
Dirigido Mark Osborne
Com Mackenzie Foy, Jeff Bridges, Rachel McAdams
Gênero Animação
Nacionalidade França       

    O mundo das artes consegue atingir o seu maior valor - segundo este que vos escreve, obviamente - quando consegue, se valendo das realidades humanas, atingir o íntimo das pessoas, tocando-lhes naquilo que é mais caro, que sãos os seus sentimentos.

    Quando em 1943 Antoine de Saint-Exupéry escreveu e desenhou a sua mais famosa obra literária, "Le Petit Prince", o alcance de sua produção talvez tenha sido inimaginável: em escala global é a terceira obra literária mais traduzida no mundo, todavia, em escala íntima, a produção consegue atingir o fundo da alma, botando em reflexão até o mais cético e frio leitor. 

   Fácil de entender, pois os temas abordados por Exupery são aqueles que convive-se no dia a dia, porém, só perceptível por quem para para uma reflexão, ou, forçosamente acossado depois de ler sua obra. 

   Bom, voltando ao livro, quando o pequeno príncipe se encontra com a raposa, no planeta Terra, a relação que se estabelece entre os dois, além do processo de aproximação e também de rompimento, é o que normalmente ocorre com todos que de alguma forma estabelecem uma relação íntima com outro - amigos, casais, profissionais, familiares, etc. - porém, a forma didática e lúdica da explicação de Exupery encanta e surpreende qualquer um que a lê.

    Agora em 2015, mais de setenta anos depois da publicação desta universal obra literária, a França produz um segundo longa metragem sobre o tema - o primeiro, de 1974, é algo de extraordinário - e, imagina-se a responsabilidade dos idealizadores desta nova produção, visto a tamanha fama do livro e de sua "profundidade". Pois bem, felizmente o filme consegue alcançar o âmago do livro, entregando visualmente aquilo que se lê.

   A produção cinematográfica ousa ao tangenciar a obra de Exupery, e mais, usa os personagens do livros para contar uma outra história, fora daquilo que se encontra no livro, porém, respeitando tudo o de bom dos escritos de 1943. Na verdade há um enquadramento temporal da história, relacionando alguns dos nossos problemas atuais ao modo de ver da história de Exupery. 

   O filme é visualmente belíssimo, desde a simetria da cidades até as flores que "vibram" no carro do personagem do velho senhor. As duas personagens mulheres são também muito belas, tanto em aspecto, quanto em comportamento - sim, a mãe age como a maioria das pessoas age no mundo atual, principalmente por querer o bem de sua filha a todo custo... Caracterizando sim um belo, porém, contestável comportamento.

   Já a pequena menina, "filha da mãe" e amiga do velho senhor dá um show a parte. A qualidade da animação é surpreendente, pois somente através do olhar da menina somos capazes de captar os seus sentimentos. Suas imperfeições - por exemplo, seus dentinhos tortos - lhe atribuem tanto carisma, que é impossível não cativar-se por ela.

   Enfim, a essência da obra original do "Pequeno Príncipe" é sentida em todo o filme, conferindo-lhe um grande valor artístico.